
Alícia Rösler Nelsis
Julia Avelino de Almeida
Margarida Maria Dias de Oliveira
(orgs.)
Exercício de ousadia: a educação no Cursinho Popular Dona Militan
A educação popular sempre me encantou. Ela me encanta por um motivo simples de compreender, mas complexo de se observar: o povo. A educação popular nasce do povo, fala com o povo e transforma o povo. Como nos lembra a professora Maria da Glória Gohn, cada projeto de educação popular é, também, uma forma de ação política concreta. E é nessa ação coletiva que o Cursinho Popular Dona Militana floresceu. Como uma dessas ideias que brotam do chão fértil da esperança, regadas por quem acredita que aprender – e ensinar – é também um ato político.
O cursinho não começou apenas com o desejo de ajudar jovens a entrarem na universidade. Ele nasceu do inconformismo. Da recusa em aceitar que o direito de sonhar continue sendo um privilégio. Da certeza de que, quando o Estado demora a chegar, é o povo que se organiza e constrói pontes. O Cursinho Popular Dona Militana é exatamente isso: ponte. Entre o saber e a vida. Entre a sala de aula e a rua. Entre o que se ensina e o que se transforma. O projeto se enraíza no território, como diria Milton Santos, na geografia concreta da esperança. Os professores que doam seu tempo e os estudantes que chegam cansados do trabalho, mas cheios de vontade, são parte de uma mesma história que trazem para esse projeto a vontade de construir novas perspectivas em Natal através de uma educação libertadora. Uma história escrita a muitas mãos, feita de fé na educação e amor pela coletividade.
Carregar o nome de Dona Militana é também um gesto político. É lembrar da mulher do povo que guardou as memórias e as cantorias de um Rio Grande do Norte profundo e vivo. É dizer que nossas raízes cabem no presente, que o saber do povo é parte da ciência que move o mundo. Assim, o cursinho ensina para o Enem, mas também ensina para a vida, como queria Paulo Freire: com o coração aberto e o olhar voltado para o amanhã.
Quando nosso mandato destinou recursos para fortalecer o Cursinho Popular Dona Militana, o fizemos com a convicção de que investir na educação popular é investir na democracia. Porque é na escola, no cursinho, na roda de conversa, que um Brasil mais acessível à classe trabalhadora nasce. Um Brasil, um RN e uma Natal em que os filhos da classe trabalhadora continuam a entrar na universidade sem pedir licença.
O Cursinho Popular Dona Militana é resistência. Um lembrete de que o futuro é coletivo e que o conhecimento, quando compartilhado, é força revolucionária. Que este livro sirva como registro e como farol, para que outras experiências sigam o mesmo caminho de ousadia, solidariedade e fé na potência do povo.
O livro que o leitor tem em mãos é fruto de um processo coletivo de trabalho e pesquisa. Ele sistematiza as experiências do Cursinho Popular Dona Militana, traduzindo em texto o que foi vivido em sala de aula, nas reuniões e nas comunidades. Sua importância está em documentar uma prática política e pedagógica que articula universidade, escola pública e movimentos sociais. Ao registrar essa caminhada, o livro afirma a educação popular como um campo legítimo de produção de conhecimento e como uma ferramenta de transformação social. Que as palavras aqui reunidas inspirem quem acredita que sonhar ainda é e sempre será preciso. E que educar, quando feito com coragem, é uma forma de amar o mundo e o nosso povo de maneira revolucionária, assim como fez Dona Militana, que tanto nos ensinou o valor da memória e da cultura popular.
Isolda Dantas
Deputada Estadual do
Rio Grande do Norte
