Nas últimas décadas, os grupos de surdos têm sido bem mais notados pelo coletivo ouvinte, o qual constitui a maioria da sociedade. Essa maior visibilidade se deu, em grande parte, pela capacidade de organização daquele grupo social, que, por meio fundamentalmente da luta pelo reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua dos surdos no Brasil, posicionou-se enquanto um grupo, ainda que não homogêneo, que se enxerga cada vez mais dentro de uma concepção de identidade e cultura surda. O desenvolvimento das línguas sinalizadas possibilitou que os surdos tenham uma forma de comunicação que é atualmente percebida por boa parte dos ouvintes, seja por verem surdos sinalizando pelos espaços das cidades, seja por matérias em programas de televisão, ou mesmo por observarem as chamadas “janelas de Libras”, em que intérpretes da Língua de Sinais aparecem no canto da tela da televisão traduzindo as informações para os surdos, ainda que, muitas vezes, por se tratar de um universo completamente desconhecido e até mesmo tratado com certa indiferença ao longo do tempo, cause estranhamento e incompreensão na maioria não surda da população, despertando em muitos a curiosidade e a sensação de estar diante de um fenômeno exótico. A realidade descrita acima é nova e desconstrói gradualmente uma percepção que se constituiu no interior dos grupos ouvintes, a de que pessoas surdas não possuem habilidades para conversar. Para grande parte da população, da imprensa e da academia, a comunicação de pessoas surdas é no mínimo truncada. Daí a popularização da expressão “diálogo de surdos”, a qual cristaliza preconceitos que são enfrentados de forma firme neste meu segundo livro.

 

Ernesto Padovani Netto (autor)